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Documentação do Minderico – Uma língua ameçada em
Portugal
é o nome oficial do projecto de três anos financiado pela
Fundação Volkswagen e que trouxe no passado dia 7 de Março de
2009 uma equipa da Alemanha até Minde.
Como a maioria dos mindericos já sabe, essa equipa é
constituída por mim (Vera Ferreira), Peter Bouda (também em
Minde) e PD Dr. Annette Endruschat da Universidade de
Regensburg, na Alemanha.
Antes de tecer algumas considerações acerca do trabalho até
agora desenvolvido e da aceitação e empenho da comunidade
minderica, gostaria de aproveitar esta oportunidade para mais
uma vez realçar os objectivos centrais deste projecto que está
inserido no Programa de Documentação de Línguas Ameaçadas
(DOBES) da Fundação Volkswagen.
No caso particular do minderico, os objectivos principais são
por um lado a sua documentação, o que implica a gravação áudio
e vídeo da piação enquanto esta é usada pelos seus falantes
nas diversas actividades do dia-a-dia.
Essas gravações, que já iniciámos, serão depois transcritas e
anotadas e darão origem a um dicionário multimédia (em três
línguas: minderico – português – inglês) e estarão na base de
vários materiais didácticos e artigos científicos sobre a
piação do Ninhou. Por outro lado e, tendo em conta a situação
actual do minderico, talvez ainda mais importante que a
documentação mas claramente aliada a esta será todo o processo
de revitalização, para o qual já estamos a dar os primeiros
passos, juntamente com a comunidade minderica.
Este processo implica por exemplo a criação de “aulas” de
minderico, ou melhor de incentivo à comunicação na piação, no
CAORG, que eu própria, juntamente com o senhor Carlos Amoroso,
estou a dar; a reestruturação da sinalética da vila em duas
línguas (minderico e português) – ideia bastante apoiada pela
Junta de Freguesia, que, juntamente com a Câmara Muncipal de
Alcanena, nos tem disponibilizado todo o apoio; e a
criação de ementas e tabelas de preços também bilingues para
os estabelecimentos públicos que pretendam aderir à
iniciativa, como já foi o caso do “Estaminé”, “Ti Sofia”, “Bar
Tony Anjos” e “Mindelicias”. Isto para citar apenas alguns
exemplos.
Talvez com estas pequenas iniciativas se consiga, a longo
prazo, atingir um objectivo ainda mais elevado que é o
reconhecimento oficial da piação como uma língua minoritária.
Tendo em conta o trabalho que tenho vindo a desenvolver com o
minderico desde 2001, quando vim desta vez para Minde tinha
plena consciência de que um empreendimento desta natureza, com
uma quantidade diminuta de falantes ainda fluentes e uma falta
de reconhecimento e auto-valorização de uma riqueza tão única
que deve ser preservada, iria ser uma tarefa ardúa.
Porém, a ajuda e empenho de todos os “charales e covanos” tem
facilitado em muito este trabalho.
Depois de efectuadas as primeiras gravações
com alguns falantes de minderico como por exemplo com o senhor
João Gameiro (conhecido por Joãozinho), Cândido Simões, José
Manuel Almeida (para as quais muito contribuiu o empenho dos
proprietários do estabelecimento “Ti Sofia” e a ajuda do
senhor João Gameiro) e com os senhores João Vieira da Costa,
António Afonso, Bento Martinho, João Maria Penúria e Saúl
Patita, e de ver o brilho nos olhos de todos quando “piavam à
modeia”, pensei para mim que este brilho e alegria têm de ser
recompensados e fiquei com a certeza de que o renascimento do
minderico, com a ajuda de TODOS, se conseguirá sem qualquer
dúvida.
Além disso, o empenho da Comissão de Festas na noite de fados
para que o minderico estivesse presente, a ajuda do senhor
padre Albino, as aulas de minderico cuja adesão extropolou
todas as minhas expectativas, o apoio incondicional do CAORG e
do Jornal de Minde corroboram e realçam esse facto.
Ao nível da realidade virtual, temos contado com todo o apoio
da nova Casa do Povo de Minde, mais concretamente do grupo
Media Minde que faz parte desta instituição; e, num domínio
mais individual, os apoios de Pedro Micaelo e de Vítor Silva
têm sido imprescindíveis para a divulgação online do projecto.
Quando explico o projecto costumo dizer que este trabalho não
é apenas uma carolice minha ou o interesse de alguma
instituição estrangeira, mas sim um projecto de todos os
mindericos e de Minde para Minde e os seus filhos.
Obrigada por nos receberem tão bem!
Vera Ferreira no JORNAL DE MINDE - Março 2909
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